A HISTÓRIA COMPLETA DE MUMEMO
Uma vista aérea da destruição causada pelas cheias de 2000 em Maputo, Moçambique.
CHEIAS DE 2000 e 2001 EM MAPUTO
As cheias de 2000 e 2001 destruíram grande parte do bairro de Chamanculo-C (nos subúrbios de Maputo), deixando centenas de famílias sem nada. O bairro de Chamanculo-C situa-se em Lhanguene, nas traseiras do Convento de S. José, das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC).
Perante a catástrofe, as Irmãs da CONFHIC fizeram tudo o que lhes foi possível para socorrerem algumas destas famílias que perderam tudo, orientadas pela superiora Provincial, que era nessa altura a Ir. Susana Custódio Marques.
As inundações foram muito repentinas, ocorrendo logo no dia 8 e 9 de Fevereiro e também em Março de 2000.
Assim, as Irmãs começaram por abrigar algumas destas pessoas, acolhendo-as nas suas próprias instalações, no referido convento, (no espaço denominado “Acção Fraternal”), onde chegaram a estar alojadas 64 famílias, durante os meses de Fevereiro, Março e Abril de 2000.
A SITUAÇÃO CAÓTICA DE CHAMANCULO-C
A CONFHIC verificou que a população em Chamanculo-C já vivia anteriormente em condições desumanas – o bairro estava sobrelotado pela população refugiada dos 16 anos de guerra civil. As casas improvisadas com restos de latas e caniço estavam amontoadas, desorganizadamente, podendo uma única latrina servir a 10 famílias, com 6 a 10 pessoas em cada família.
As cheias foram apenas “um olho de Deus” para que outros humanos pudessem intervir e mudar a história de centenas de pessoas. As Irmãs da CONFHIC aperceberam-se que, depois das cheias, aquelas famílias iriam ter grande dificuldade em recuperar, pois tinham perdido tudo. Além disso, o espaço que ocupavam era insalubre, doentio e limitado. A recuperação desta população iria ser muito difícil.
Drenar, Limpar e Reconstruir Chamanculo-C
Numa primeira fase, a CONFHIC enviou cartas ao Conselho Municipal e à CARITAS Moçambicana, pedindo para comprar ou alugar motobombas para remover a água que inundava Chamanculo-C. O Conselho Municipal forneceu uma bomba e as Irmãs Missionárias da Consolata ofereceram outra motobomba e vários fardos de mantas. A Sede da CONFHIC em Lisboa apoiou-nos prontamente com algum dinheiro.
Durante 3 meses, dia e noite sem parar, uma comissão de 4 homens e 3 mulheres ficou a orientar a bombagem de água e a abertura de valas de drenagem.
Numa segunda fase, procedeu-se à aterragem da parte já enxuta, alugando 4 camiões que transportaram centenas de carradas de areia para cobrir a lama e altear o terreno.
Numa terceira fase, refizeram-se as latrinas de Chamanculo-C, comprando estacas e caniço. A CONFHIC alugou veículos próprios para limpeza das fossas comuns. Só se limparam as fossa que eram construídas de blocos pois as restantes fossas desabaram com as inundações, ficando irrecuperáveis.
As Irmãs Missionárias da Consolata compraram 50 pás e 20 ancinhos para limpar o terreno. A CONFHIC alugou um camião e o Conselho Municipal alugou-nos outro camião para recolher todo o lixo, e objectos que apodreceram na água, tais como roupas, esteiras e colchões. Fizemos encontros de educação sanitária com a população do bairro para evitar diarreias e cólera e reunimo-nos com a comissão do bairro para avaliar a situação.
Numa quarta fase, procedeu-se à reconstrução do bairro de Chamanculo-C. A população colaborou com os pedreiros. O Conselho Municipal disponibilizou técnicos e fez um projecto para um sistema de valas de drenagem.
Ninguém aceitava sair de Chamanculo-C
Surgiu um novo problema: era difícil motivar as famílias a acolher a solução de abandonarem o bairro de Chamanculo-C para reiniciarem uma nova vida noutro distrito, num lugar mais saudável e seguro.
Mas a verdade é que os esforços empreendidos anteriormente não foram suficientes para garantir a segurança e salubridade do bairro. Além disso, também era indispensável uma redução na sobrelotação de Chamanculo-C.
Contudo, a maioria das famílias teimavam ficar em Chamanculo-C e não aceitavam arriscar sair para um bairro que ainda nem existia e ficava muito longe de Maputo.
Entretanto, ao fim de seis encontros, várias famílias acolheram favoravelmente a ideia de partir para outro lugar, e para tal colaboraram formando uma comissão de moradores.
Assim, eles mesmos fizeram um recenseamento das famílias dispostas a sair de Chamanculo-C e das famílias que queriam ficar em Chamanculo-C. Esse recenseamento das famílias vítimas das cheias apurou 1777 famílias que desejavam recomeçar uma nova vida num outro distrito, seguro e saudável.
O terreno para o bairro
Feito o recenseamento, em Maio de 2000, a CONFHIC apresentou ao Conselho Municipal de Maputo a lista das 1777 famílias que estavam interessadas em sair de Chamanculo-C para um novo bairro. Apresentou igualmente a necessidade de um terreno suficientemente grande para reassentar essas famílias.
O Conselho Municipal de Maputo acolheu o “sonho” das Irmãs em tirar aquelas pessoas duma situação clamorosa, prometendo algum apoio nessa “aventura”. Entregou à CONFHIC uma carta de solicitação do terreno para a apresentarmos no Governo Distrital de Marracuene.
Com essa carta de solicitação, o Governo Distrital de Marracuene cedeu-nos um terreno suficientemente grande para construir as 1777 casas, com 30.000 hectares de área, destinado a este novo bairro, e numa zona segura. O terreno cedido localizava-se numa zona ainda selvagem e arenosa, 30 km a norte de Maputo, no distrito de Marracuene.
Construir um bairro completo
Seria humanamente inconcebível que estas famílias, que tudo perderam, ficassem simplesmente no novo terreno, ainda selvagem, sem abrigo, sem água, sem alimento, sem nada. A população que iria viver neste bairro iria necessitar, pelo menos, de alguns serviços sociais básicos, tais como Centro de Saúde, Escola, etc.
Novamente, CONFHIC ofereceu-se para completar este processo de ajuda e com uma grande coragem e determinação, as Irmãs começaram a conceber um ambicioso projecto de um bairro completo para reassentar e servir estas 1777 famílias, isto é, cerca de 10.000 vítimas das cheias.
Propuseram-se ir mais longe, ao ponto de construir todos os serviços sociais básicos indispensáveis a um bairro completo, além de construir as casas para alojar as famílias.
Só assim poderiam oferecer àquelas famílias as condições necessárias para recuperarem e recomeçarem uma nova vida, renovando a esperança e a confiança num futuro mais seguro e saudável.
Para financiar a criação de um projecto destas dimensões, as Irmãs da CONFHIC tiveram de fazer pedidos a muitas organizações não governamentais, humanitárias e a várias instituições, tais como embaixadas, consulados, empresas, etc.
Solicitar o apoio à CARITAS
A CONFHIC começou então a procurar apoios necessários para a construção das 1777 casas e de todas as infra-estruturas sociais do bairro.
As Irmãs da CONFHIC já trabalhavam com a CARITAS-Moçambicana noutros locais do país igualmente afectados pelas cheias, tais como Chalocuane (Gaza). Uma vez que o reassentamento desta população, proveniente de Chamanculo-C, já tinha sido autorizado pelo Governo, as Irmãs puderam apresentar à CARITAS-Moçambicana esta nova situação humanitária urgente. A CARITAS-Moçambicana acolheu a ideia, e encorajou a CONFHIC a elaborar um projecto dividido em três fases. Esse projecto deveria ser enviado à CARITAS Internacional.
Por sorte, as diversas organizações de CARITAS internacionais reuniram-se em Moçambique, devido às cheias, e visitaram o bairro de Chamanculo-C, prometendo, desde logo, financiar a construção de 500 casas.
Projecto e planta de Mumemo
Para a sustentabilidade das famílias, desenhou-se cada terreno suficientemente comprido e largo, (30 metros por 15 metros), para permitir que a família possa aumentar a casa no futuro, e ter uma pequena machamba/horta familiar nas traseiras da casa. Nessa machamba também se iriam de plantar sete árvores de fruto.
Lançamento da 1ª pedra
A cerimónia do “Lançamento da Primeira Pedra” para o início da construção do bairro decorreu no dia 26 de Maio de 2001, com a presença do Governador de Maputo (Alfredo Nhamutete), Presidente do Conselho Municipal de Maputo (Artur Canana), Administrador de Marracuene, Representante do Sr. Cardeal (Pe Francisco Marques Júnior), a CARITAS-Moçambicana, a CARITAS-Italiana, CARITAS-Espanhola, e a Superiora Provincial da CONFHIC (Ir. Susana Custódio Marques).
A empresa SETA também estava presente e ficou tão sensibilizada que ofereceu, desde logo, a realização gratuita da primeira rua que vai desde a estrada nacional até Mumemo. Foi assim que nasceu o bairro de Mumemo.
Os primeiros habitantes
As pessoas que tinham aderido a este projecto na fase de recenseamento inicial foram transferidas e instaladas no terreno destinado ao novo bairro. Ficaram provisoriamente a viver em enormes tendas cedidas pela solidariedade internacional, através o Conselho Municipal. Essas pessoas ofereceram-se para limpar as matas no local onde ficariam essas tendas.
Preparação do terreno
O terreno destinado ao bairro ainda nunca tinha sido desbravado, estando coberto por matas e algumas árvores. Além disso, o solo era constituindo por areia branca, tão solta que somente veículos com tracção integral conseguiam andar.
A comissão de moradores que foi formada em Chamanculo-C, seleccionava e enviava as famílias mais aflitas para Mumemo, passando-lhes uma guia.
Em Mumemo, foi constituída uma outra comissão destinada a acolher essas famílias com essas guias, vindas de Chamanculo-C. Esta comissão encarregava-se de atribuir a essas famílias um terreno. Cada família responsabilizava-se por limpar e preparar esse terreno para a construção.
Assim, ajudaram a desbravar o mato, a cortar árvores, a arrancar as suas raízes, etc.
Início da construção das primeiras habitações
Em 2001 deu-se início à construção de 500 habitações, em alvenaria (blocos de cimento), cobertas por chapas galvanizadas.
Iria ser construída uma casa para cada família a alojar, sendo todas as plantas iguais, incluindo dois quartos e uma sala central. Esta construção foi concebida para ser evolutiva, isto é, permite que a família, no futuro, realize obras de ampliação. Na outra extremidade do terreno iria construir-se uma latrina.
Rede eléctrica do Bairro
A EDM efectuou a montagem dos postes eléctricos, cabos, posto de transformação (PT) e de tudo o necessário para a electrificação do bairro, incluindo a iluminação pública das ruas. Tudo foi oferecido excepto o posto de transformação (PT), que teve de ser adquirido pela CONFHIC.
Essa energia também iria ser indispensável para alimentação das bombas eléctricas de abastecimento de água (necessária às muitas obras de construção), e futura electrificação das habitações familiares.
As primeiras infra-estruturas sociais
Ainda a meio de 2001 começaram as obras de construção do Centro de Saúde para este bairro.
Quase em simultâneo iniciou-se a construção duma Escola Primária Completa (da 1ª classe até à 7ª). Estas duas obras tiveram o financiamento da ONG espanhola de inspiração católica denominada “Manos-Unidas”.
Seguidamente iniciou-se a construção dum Jardim-de-infância, para cuidar e educar as crianças mais pequenas. Esta obra foi financiada pela “Congregação das Irmãs Missionárias da Consolata” de Itália.
Furos de abastecimento de água
Seguidamente, no final de 2001, efectuaram-se diversos furos de água, tanto para servir a população como para as grandes obras de construção que se seguiriam. O financiamento para os 12 furos existentes proveio da UNICEF, Embaixada dos Estados Unidos da América, CARITAS Espanhola, Manos-Unidas, Missionárias da Consolata e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal.
Reflorestação do Bairro
Com o apoio da ONG inglesa CAFOD iniciou-se cedo a reflorestação do Bairro, com a criação dum viveiro de plantas, integrado numa secção com funcionários e meios adequados, denominada “Ambiente”.
Ganhar e aprender a ganhar o “pão”
Apesar destas infra-estruturas, muitas pessoas que anteriormente subsistiam de revendas no mercado informal, ou de pequenos trabalhos, continuavam sem ocupação nem fonte de rendimentos para sustentar as suas famílias. Ficaram sem os seus meios de subsistência habituais, ainda que fossem precários e insuficientes: a situação era novamente preocupante.
As Irmãs quiseram prolongar a sua ajuda a estas vítimas das cheias até ao ponto de proporcionar meios de sustentabilidade das famílias. Mas não é fácil criar empregos a partir do nada. Então começaram por averiguar quais as capacidades da população.
Assim, as Irmãs da CONFHIC pediram à recém-criada “comissão de moradores” que fizesse um levantamento das capacidades e preferências de trabalho da população. Uns poucos entendiam de carpintaria, outros sabiam algo de serralharia, outros de padaria, mecânica, etc., mas, infelizmente a grande maioria eram apenas vendedores ambulantes e nos mercados informais…
Como proporcionar auto-sustentabilidade às famílias?
Face a esta lacuna de formação profissional, a Ir. Susana Custódio Marques idealizou uma solução de modo a garantir simultaneamente a esta população: aprendizagem, formação e trabalho.
Por um lado, os pais iriam ser os mestres da formação profissional, ganhando o seu salário, e ensinando a “saber fazer”.
Por outro lado, os filhos iriam ser os alunos, aprendendo a saber fazer, com técnica.
Com formação profissional, obter emprego e "ganhar o pão" seria mais fácil.
Um Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional
As Irmãs, sempre procurando seguir o lema da CONFHIC, que é “fazer o bem (bem feito) onde houver o bem a fazer”, tentaram empenhar-se também na resolução deste novo problema para estas centenas de vítimas das cheias, apesar de já as estarem beneficiar com Casas novas, Água, Energia Eléctrica, Centro de Saúde, Escola Primária, Jardim-de-infância, etc.
Novamente, fizeram todos os possíveis para não deixar as famílias desamparadas, isto é, com todas as infra-estruturas, mas sem quaisquer meios de subsistência. Isto é, tornar o bairro habitável.
Assim esboçaram um projecto para tentar solucionar o problema da sustentabilidade das famílias deste bairro. E assim nasceu o sonho de um Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional para o bairro de Mumemo.
Necessitava-se financiamento para este novo Centro
Concebido o projecto, apresentou-se a ideia à ao Governo-Geral a nível internacional da CONFHIC, na pessoa da Conselheira Geral Responsável pelas Obras Sociais, a Ir. Mª Emília da S. Monteiro. A Ir. Mª Emília sugeriu que este projecto poderia ser proposto ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal.
Assim, em 13-Dez-2001 o projecto foi entregue ao Dr. Proença, do referido Ministério em Portugal, e, passados meses, foi recebida uma resposta de esperança, dizendo que “de momento não era possível corresponder, mas que o projecto não seria posto de lado”.
Reposta positiva ao financiamento para este Centro
Um ano depois, em Nov-2002, a, do Departamento de Cooperação do Ministério da Segurança Social de Portugal, veio a Moçambique para renovar os acordos de cooperação entre o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal e o Ministério da Mulher e da Acção Social.
A Dr.ª Mª Lucília Figueira comunicou à Irmã Susana Custódio Marques a aprovação do projecto do Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional, ficando a CONFHIC parceira no âmbito da cooperação entre os dois Ministérios de Portugal e Moçambique.
Assim, em 20-Nov-2002, foi assinado o acordo entre o Ministério português da Segurança Social, da Família e Criança e o Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social de Moçambique, fazendo parte das parceiras as Irmãs da CONFHIC.
Nesse mesmo dia, o Dr. Bagão Félix, então Ministro da Segurança Social de Portugal, realizou uma visita informal a Mumemo.
Uma semana depois chegaram os fundos para construir e equipar totalmente o Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional.
Construção do Centro de Apoio ao Emprego e F. Profissional
Em Abril de 2003, fim da época chuvosa, começaram a obras de construção deste Centro. Os componentes deste Centro de Apoio ao Emprego e F. Profissional, são Mercado, Centro Social, Espaço de Lazer, Aviários de Frangos e de Patos, Padaria, Moageira, Fábrica de Blocos, armazém para matérias-primas, garagem para os dois camiões de apoio, Oficinas e Salas de aulas teóricas para os Cursos de Formação Profissional.
Depois, as oficinas e salas foram devidamente equipadas com todas as máquinas, ferramentas, utensílios e mobiliário necessários.
Construção do Centro Social, Mercado e Aviários
O Centro Social foi construído num local central dispondo de dois edifícios, incluindo: Formação em Costura, Bordados, Batiques, com uma Sala de Recepção, Contabilidade, Sala de Conferências e outros espaços para a Comissão de Moradores e destinados ao acolhimento e à resolução de assuntos do bairro. É nesta secretaria que se encontram arquivados todos os processos de cada família alojada. É nesta secretaria que as famílias contribuem para as despesas do consumo da energia eléctrica das bombas de água.
Construiu-se um um aviário com seis pavilhões, com capacidade para total de criar 6000 frangos, para abastecer o bairro e igualmente para permitir alguma auto-sustentabilidade aos restantes projecto sociais de Mumemo.
O Mercado de Mumemo foi construído, tendo 60 metros de comprimento, incluindo dezenas de bancas para comerciantes, com lojas para mercearias ou roupas, etc. Os objectivos deste grande mercado eram: permitir abastecer a população do bairro com produtos alimentares e outros bens; e além disso iria permitir geração de rendimentos aos revendedores deste bairro.
Assalto em Mumemo
O assalto aconteceu na noite de 28 de Novembro de 2004. Os assaltantes roubaram o dinheiro das obras sociais depois de balearem a Ir. Susana Custódio Marques no joelho, tendo a bala saído pela parte de trás da perna. Os assaltantes puseram-se em fuga ao ouvirem bater à porta. Depois de ter batido à porta, o voluntário português tentou fugir para local seguro. Mas antes disso foi alvejado no abdómen pelos assaltantes, que o mandaram deitar no chão. Depois de os assaltantes fugirem, o voluntário português levantou-se e ainda conseguiu ir buscar o carro das Irmãs, para depois o motorista levar todos ao hospital central de Maputo.
De Centro de Apoio ao Emprego e F. Profissional a Escola Profissional
Recentemente tinha sido eleito Armando Guebuza para Presidente da República. Por coincidência, o seu programa de governo privilegiava o ensino profissional como motor do desenvolvimento.
No início de 2005 recebemos a visita da Sr.ª Governadora da Província de Maputo, a Dr.ª Telmina Pereira. A Governadora constatou que, as oficinas tinham um equipamento muito moderno e completo, e orientou-nos a elevar este Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional a Escola Profissional.
Assim, preparámos a documentação para a oficialização da Escola Profissional S. Francisco de Assis. A Escola, propriedade da Congregação, iria ter o apoio do Ministério da Educação e Cultura, segundo a legislação vigente para as "Escolas Particulares e Comunitárias" em Moçambique.
Deste modo, o Governo autorizou a abertura da oficial da Escola, o seu funcionamento, disponibilizou os Professores, a Comissão Administrativa e o seu respectivo pagamento.
Enquanto decorria o processo de oficialização da Escola Profissional, fez-se uma carta à Congregação dos Salesianos, dada a sua vasta experiência na área do ensino Profissional, a pedir-lhes que o Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional, no seu primeiro ano, funcionasse como "Salas Anexas da Escola Profissional Dom Bosco da Moamba dos Salesianos". Pediu-se que a Direcção da Escola Salesiana tutelasse o nascimento da Escola Profissional "S. Francisco de Assis de Mumemo.”
Construção de salas de aulas teóricas para a Escola Profissional
Para possibilitar a conversão do Centro de Formação Profissional em Escola Profissional foi necessário construir um novo edifício com 10 salas para as aulas teóricas e uma biblioteca, dado que nos Cursos Profissionais também existem as disciplinas normais do ensino geral deste a 8ª classe até à 10ª Classe.
Novamente conseguiu-se o financiamento do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal no âmbito da cooperação com o Ministério da Mulher e da Acção Social de Moçambique.
A obra de construção destas salas ficou concluída em final de 2005.
Transição com apoio dos Salesianos
Felizmente os Salesianos aceitaram dar-nos as mãos e assim reuniram-se as condições eram favoráveis ao sucesso, já que haviam instalações e equipamento dos mais avançados e completos. Mumemo estava no caminho de se tornar um motor de progresso. Foi assim que nasceu a Escola Profissional de Mumemo.
A Escola Profissional de Mumemo começou oficialmente a funcionar no início do ano lectivo de 2005, mas ainda como "Salas Anexas da Escola Profissional Dom Bosco da Moamba dos Salesianos." No dia 19 de Abril de 2005 as novas 10 salas de aulas teóricas começaram a ser usadas pela Escola Profissional.
Mas esta mudança ainda não era definitiva, pois tratava-se apenas uma etapa de conversão deste projecto. Isto é, durante um ano apenas, o projecto iria funcionar como “Salas anexas da Escola Profissional Dom Bosco de Moamba dos Salesianos.” O objectivo seria no ano lectivo seguinte, a escola conseguir tornar-se independente, sem o apoio e colaboração oferecida pelos Salesianos. Iria tornar-se autónoma e com nome próprio: Escola Profissional S. Francisco de Assis.
Escola Profissional de S. Francisco de Assis
No ano 2006 a nova Escola Profissional de S. Francisco de Assis estava funcionando em pleno.
A Escola já oferecia um ensino moderno, no sistema modular, com programas actualizados e destinados a responder a necessidades reais.
Dispunha de cinco cursos: Cursos de Electricidade Civil, Carpintaria, Serralharia Civil, Mecânica-auto e Moda e Confecções. Mais tarde criaram-se os cursos de Agro-pecuária, e Construção Civil, ficando-se a sonhar com um futuro curso de "Hotelaria e Turismo".
Todos os cursos funcionam com um número de alunos acima da média. Em todos os casos, as raparigas estavam largamente incluídas.
Os alunos provenientes de lugares mais afastados tinham à sua disposição alojamento em habitações do bairro, facultadas pelas Irmãs e sujeito a regras de funcionamento. Igualmente, os professores e formadores, que residiam maioritariamente longe da Escola, viram a sua vida facilitada com a entrega de habitações.
A colaboração entre o Ministério da Educação e Cultura e a CONFHIC tem sido um grande bem para este povo. O Ministério beneficiou 8 professores desta escola, para uma formação de 3 meses em Portugal, cada um na sua especialidade, incluindo a formação do Director da Escola. Desta forma, a Escola tive maior segurança logo nos seus inícios. Para além disso, os professores continuam beneficiando de uma formação periódica em seminários que o Ministério tem vindo a dar ao corpo docente da Escola Profissional de S. Francisco de Assis. A Escola tem ainda participado em formações promovidas pelo Ministério na Escola Portuguesa de Moçambique.
Rede de abastecimento de água às habitações
O sofrimento das mulheres em irem buscar água à cabeça, depois de um exaustivo trabalho nas machambas, nos dumbanengues, fez-nos pensar em minorar este sofrimento. Quisemos também proporcionar-lhes melhores condições de higiene nas famílias. Também quisemos facilitar a rega das suas pequenas hortas, permitindo assim melhorar segurança alimentar, e com isso a sua saúde. Isto fez-nos sonhar com uma rede de abastecimento de água às habitações familiares.
Cada família interessada contribui com 2.000,00 Meticais para levar a água da tubagem geral para o seu quintal.
Em Janeiro de 2007 deu-se início à montagem da rede de água do bairro destinada a permitir o fornecimento casa a casa. Assim, cada família poderá efectuar a ligação à rede “pública”, conforme as suas possibilidades.
O financiamento da rede proveio da ONG CAFOD.
Dois Lares Internatos
Os alunos da Escola Profissional que viviam longe estavam a ser provisoriamente alojados em habitações que inicialmente estavam destinadas às famílias do bairro. Não era uma solução adequada, nem os alunos tinham os meios adequados, nem haviam habitações suficientes para tantos casos.
Para resolver esta dificuldade, a Ir. Susana concluiu que seria necessário construir dois internatos, um Lar Feminino e um Masculino para alojar os alunos da Escola Profissional.
Mais uma vez conseguiu-se resposta positiva por parte do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal no âmbito da cooperação com o Ministério da Mulher e da Acção Social de Moçambique.
Além disso, também houve colaboração de outros doadores, tais como a “Comunidad de Madrid” através da Africa-Directo, no caso do Internato Feminino.
No ano de 2007, construíram-se assim: um Lar Internato Feminino com capacidade para 100 meninas e um Lar Internato Masculino com capacidade para 150 rapazes, que se encontram em pleno funcionamento.
Bloco Administrativo para a Escola Profissional
Para completar a transformação do Centro de Apoio ao Emprego e Formação Profissional em Escola Profissional ainda faltavam algumas salas e espaços destinados a actividades administrativas.
Mais uma vez, fez-se o apelo ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal no âmbito da cooperação com o Ministério da Mulher e da Acção Social de Moçambique, que aceitou o financiamento.
Assim, a meio de 2008 as obras de construção do Bloco Administrativo da Escola Profissional já estavam concluídas, incluindo: Sala do Director, Sala do Pedagógico, Sala do Administrativo, Secretaria, Refeitório para os Professores, Sala dos Professores, Sala de Projectos – Arquitectura, e ainda mais 6 salas de aulas teóricas.
Os primeiros Graduados da nova Escola Profissional
Em 22 de Dezembro de 2008 decorreu a cerimónia dos primeiros Graduados desta Escola Profissional, que contou com a presença do Director Nacional do Ensino Profissional e do Director Provincial de Educação, bem como de outras importantes individualidades governamentais e não só. Foi um dia de festa para os alunos e para todos os que tornaram possível este valioso meio de desenvolvimento da sociedade e do país.